Tarcísio Motta diz que intenção da CPI das Americanas era blindar os acionistas

“Já estava claro, desde o início, que a CPI não chegaria a lugar nenhum; isentaram os bilionários de qualquer responsabilidade na fraude que lesou trabalhadores e pequenos e médios fornecedores”, afirma o deputado

28 set 2023, 14:49 Tempo de leitura: 2 minutos, 31 segundos
Tarcísio Motta diz que intenção da CPI das Americanas era blindar os acionistas

A CPI das Americanas terminou na última terça-feira, 26, de forma melancólica e vergonhosa, com dezoito votos a favor do relatório de autoria do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC) e oito contra. O texto aprovado não aponta os responsáveis pelo rombo de mais de R$ 20 bilhões nas contas da empresa. Ao invés disso, apenas faz sugestões de melhorias legislativas. As federações PT/PCdoB/PV e PSOL/Rede e até mesmo o PL se posicionaram contra o texto.

Havia uma primeira versão do relatório pronta desde o início do mês, que não foi votada devido a um pedido de vistas, deixando a análise para o último dia. Em seu parecer, com 353 páginas, o relator afirma que “o conjunto probatório, de fato, converge para o possível envolvimento de pessoas que integravam o corpo diretivo da companhia (ex-diretores e ex-executivos)”. Mas alega que “os elementos até então carreados não se mostraram suficientes para a formação de um juízo de valor seguro o bastante para atribuir a autoria e para fundamentar eventual indiciamento.”

O deputado Tarcísio Motta (PRJ), que ao final da reunião na semana anterior já havia destacado que os documentos solicitados por ele sequer foram analisados com rigor técnico pela CPI, apresentou um relatório alternativo junto com a deputada Fernanda Melchionna (RS).

 “Para nós, já estava claro que a CPI das Americanas não chegaria a lugar nenhum. Desde o início percebemos que a intenção era blindar os três grandes acionistas (o trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, da 3G Capital) de qualquer responsabilidade na fraude que lesou, principalmente, trabalhadores e pequenos e médios fornecedores. Ou seja: fraude de bilionários”.

Tarcísio ainda questionou qual teria sido o parecer técnico que a CPI produziu com os documentos que chegaram. “Ao olhar o relatório aprovado, a gente nota que ele não tem quase nada de análise dos documentos. Apenas repete o que todo mundo está cansado de saber”. O parlamentar diz que a desculpa do relator é de que não houve tempo para investigações mais profundas. “Eles manipularam para que não desse tempo. Não colocavam requerimentos para votações, cancelavam sessões quando tinha feriado durante a semana, convocavam só uma sessão por semana mesmo quando era necessário acelerar”.

Foram quase quatro meses de trabalho da CPI, que ouviu ex-diretores das Americanas, além dos advogados responsáveis pela recuperação judicial da companhia e autoridades encarregadas das investigações. Para Tarcísio, foi uma perda de tempo. “Houve toda uma manobra para blindar os acionistas. Uma perda de tempo para o parlamento brasileiro que, ao final, não trouxe nenhuma novidade sobre a situação da empresa. Nós apontamos elementos e queríamos que a CPI continuasse para analisar os documentos que não foram analisados. Mas a CPI terminou numa enorme pizza. Infelizmente”.