O futuro estádio do Flamengo e a ditadura (por Chico Alencar)

"A área do Gasômetro, na Zona Portuária do Rio, está no centro das atenções por causa da desapropriação do terreno de 88 mil metros quadrados pela Prefeitura, para que o clube construa um estádio no local"

27 jun 2024, 14:24 Tempo de leitura: 2 minutos, 1 segundo
O futuro estádio do Flamengo e a ditadura (por Chico Alencar)

A área do Gasômetro, na Zona Portuária do Rio, está no centro das atenções por causa da desapropriação do terreno de 88 mil metros quadrados pela Prefeitura, para que o Flamengo construa um estádio no local.

Há evidentes aspectos eleitorais na decisão do prefeito (inclusive com o anúncio feito junto com o vice de seus sonhos). Aguarda-se também como serão enfrentados os prováveis transtornos que o estádio deve causar na região – afetada por trânsito intensíssimo. Mas isso merece um outro debate, bem detalhado.

O que quero lembrar aqui, como professor de História e cidadão, é de quando o Gasômetro quase se tornou parte do que poderia ter sido uma das maiores tragédias da história brasileira.

Durante a ditadura empresarial-militar, os militares criaram um plano, no ano de 1968, arquitetado pelo Brigadeiro João Paulo Burnier, de explodir o Gasômetro, que já chegou a ser o maior do mundo, com capacidade para fornecer 180 mil metros cúbicos de gás por dia.

O objetivo – como no malogrado caso do Riocentro – era culpar as organizações de esquerda pelo atentado, e aumentar a repressão contra os movimentos de resistência ao regime.

Burnier ordenou que o então capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho (foto), conhecido como Sérgio “Macaco”, coordenador do grupo de paraquedistas de salvamento e resgate – Para-Sar – efetuasse a ação.

Sérgio, com muita coragem, se recusou a cumprir as ordens do comandante de extrema direita e denunciou o caso à imprensa.

Foi punido por insubordinação e, com o AI-5, compulsoriamente reformado.

Não fosse pelo capitão Sérgio Macaco, milhares de pessoas teriam sido assassinadas.

Apesar disso, só em 1997, três anos após seu falecimento, o militar finalmente teve a sua patente reestabelecida. E foi, inclusive, promovido a brigadeiro.

Sua família, então, foi indenizada pelo período que ele deixou de receber o soldo.

Em 1994, por ocasião de sua morte, quando exercia o mandato de vereador, elaborei um Projeto de Lei, depois transformado em decreto pelo Prefeito, que deu o nome de Sergio “Macaco” ao antigo viaduto do Gasômetro. Uma justa homenagem a um craque humanista e patriota de verdade, que amou o seu país e o seu povo, e não se submeteu aos chefes fascistóides!

Arte: Eli de Souza