Federação PSOL/Rede se reúne com ministro da Justiça para discutir violência política

Preocupação é com os sistemáticos ataques à democracia e aos mandatos parlamentares

20 set 2023, 16:31 Tempo de leitura: 3 minutos, 22 segundos
Federação PSOL/Rede se reúne com ministro da Justiça para discutir violência política

A Federação PSOL/Rede se reuniu com o ministro da Justiça, Flávio Dino, para tratar sobre a violência política, em especial contra os mandatos parlamentares que têm como pauta a defesa das mulheres, indígenas, negras e negros e comunidade LGBTQIA+. A intenção é unir forças para combater e mitigar a violência política em âmbito nacional, articulando as três esferas para desarticular grupos que tentam impedir o trabalho político desses grupos sociais através da violência.

O deputado Chico Alencar disse que o assassinato de Marielle Franco é um dos mais graves atos de violência contra a mulher na política. “Há uma crescente violência que vitima mulheres, indígenas, negras e negros e a comunidade LGBTQIA+”. Ele falou também sobre os desmandos e os fortes indícios de fraudes na intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro, em 2018, e que agora está sob investigação da Polícia Federal. O ministro Flávio Dino afirmou que solucionar o crime que matou Marielle e Anderson Gomes é essencial “para o PSOL, para o Rio, para o Brasil”.

A deputada Célia Xakriabá citou dois casos recentes de violência contra os povos indígenas: o estupro e assassinato da adolescente do povo Karipuna Maria Clara, no Amapá, e o incêndio criminoso na casa de reza Guarani Kaiowá, que resultou na morte dos anciãos Nhandesy Sebastiana e Nhanderu Rufino, em Mato Grosso do Sul. Célia propôs a criação de um grupo interministerial – Justiça, Mulheres e Povos Indígenas – para acompanhar as investigações de casos de violência, o que foi acolhido pelo ministro Flávio Dino.

Para o deputado Tarcísio Motta, a violência direcionada aos mandatos que tem como pauta a luta de gênero, raça, comunidade LGBTQIA+ e minorias é uma violência baseada no fundamentalismo e extremismo. “É uma violência extrema à democracia feita por grupos articulados”.

A deputada professora Luciene Cavalcante falou sobre a violência nas escolas e relatou casos em que pais ou responsáveis participam de reuniões de pais e mestres armados, porque professores aplicaram alguma atividade ligada ao tema gênero. “Precisamos fortalecer a segurança nas escolas, a empatia e o bem viver”. Luciene sugeriu a criação de um observatório sobre a violência contra professores; o ministro Flávio Dino disse que é possível junto ao Ministério da Educação, semelhante ao que já existe no Ministério da Justiça em relação à violência contra jornalistas.

O deputado Túlio Gadelha afirmou que o Brasil possui mecanismos muito frágeis quando se trata de combater a violência política, principalmente a mulheres, negras e negros, comunidade LGBTQIA+ e também de religiosidade de matriz africana. “Precisamos mudar esse cenário e estabelecer instrumentos em defesa desses grupos”.

Parlamentares ameaçadas participaram da reunião

Primeira parlamentar trans eleita pra Assembleia Legislativa do Sergipe, a deputada do PSOL Linda Brasil contou que sofre constantes ameaças, com discursos de ódio, de estupro corretivo e morte. Linda disse que atualmente tem escolta policial no estado, mas que já deixou de fazer várias atividades externas do mandato, pois os agentes, muitos bolsonaristas, recomendam que ela não participe. A deputada solicitou sua inclusão no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, que agora está no Ministério de Direitos Humanos.

Laina Crisóstomo é vereadora em Salvador, integrando a mandata coletiva preta, e falou sobre as constantes violências que sofre. “Nós não temos um dia de paz, nós, mulheres negras”, afirmou. “Mulheres pretas estão desistindo da política por conta das sucessivas ameaças que são feitas por grupos articulados”. Emocionada, ela lembrou do recente assassinato de Mãe Bernadete. O ministro Flávio Dino disse que a solução do crime é uma das prioridades, e que já conta com participação da Polícia Federal na investigação.