Bancada do PSOL vai ao Itamaraty se posicionar contra a venda de artefatos bélicos de empresas brasileiras usados na repressão a manifestações populares no Peru

O chanceler Mauro Vieira recebeu nesta terça (07.03) os parlamentares Fernanda Melchionna e Chico Alencar

7 mar 2023, 09:14 Tempo de leitura: 3 minutos, 53 segundos
Bancada do PSOL vai ao Itamaraty se posicionar contra a venda de artefatos bélicos de empresas brasileiras usados na repressão a manifestações populares no Peru

Discutir a venda de artefatos bélicos e munições feita por empresas brasileiras ao Peru – material que vem sendo usado numa repressão altamente violenta da Polícia Nacional Peruana e das Forças Armadas do país contra as manifestações populares, a mando da presidente Dina Boluarte – é o principal tópico da reunião que a bancada do PSOL teve com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty, nesta terça (07.03). Mais de 70 pessoas já morreram e centenas foram feridas desde a destituição e prisão do presidente eleito Pedro Castillo pelo Congresso Nacional no último mês de dezembro.

A comitiva do PSOL contou com os deputados federais Fernanda Melchionna e Chico Alencar e representantes da direção executiva do partido, Berna Benezes e Nadja Carvalho, além da ex-deputada federal Vivi Reis.

A deputada Fernanda Melchionna destacou a importância da diplomacia brasileira na defesa da democracia na América Latina. “É urgente que o Brasil, tal como já fez a Espanha, cesse essas vendas. Já são mais de 70 assassinados no Peru em manifestações com armas não letais. Muitas mulheres e até criança”.

O deputado Chico Alencar destacou que o diálogo com o Itamaraty também é prerrogativa dos parlamentares: “É importante que a gente contribua com o governo Lula, mantenha essas pontes, em prol das relações e inclusive sobre essa questão do desarmamento. O Peru precisa voltar a uma moralidade democrática”.

O chanceler destacou a boa tradição brasileira nas relações internacionais na América Latina, que fora interrompida no último período. “Agora, no governo Lula, queremos retomar essas pontes com os vizinhos, com base nos princípios da Constituição e nos Direitos Humanos”. O ministro ressaltou que o governo brasileiro suspendeu a autorização da venda de armas letais ao Peru. No entanto, a autorização de venda ou envio de armas não letais, que seguem sendo utilizadas nas manifestações, é da alçada do Ministério da Defesa.

Mauro Vieira prometeu levar o tema ao presidente Lula e também ressaltou a importância do PSOL no apoio à causa. A ex deputada Vivi Reis destacou o que viu recentemente em viagem ao Peru: “São muitas mortes de pessoas trabalhadoras, pessoas das comunidades mais pobres, mulheres e até crianças morrendo por causa de armas não letais brasileiras. Precisamos dizer ao mundo que não compactuamos com a violência e combater essa prática que atinge sobretudo o povo pobre e camponês”.

O líder da bancada, deputado Guilherme Boulos, que não pode estar presente à reunião, também se posicionou sobre a importância da pauta: “Acompanhamos com preocupação a crise política no Peru. É inaceitável o recurso à violência estatal contra os manifestantes que lutam pelo direito fundamental de eleger seus governantes. O Brasil precisa ter um papel diplomático atuante para restabelecer a paz e pôr fim aos conflitos. Ao mesmo tempo, não podemos tolerar a venda de armamentos ao país vizinho em meio ao recrudescimento da violência estatal contra a população peruana. O respeito à democracia e à soberania popular têm de prevalecer”, declarou o líder.

Iniciativas do PSOL

Durante o último mês, o PSOL já havia demonstrado apoio ao povo peruano, que segue expressando todo seu repúdio ao golpe e à repressão em marchas e manifestações. A Marcha dos 4 Suyos, evocando a tradição de luta histórica do povo peruano, chegou a Lima em 19 de janeiro, culminando numa grande greve geral que nacionalizou o processo de luta.

“É urgente que o governo brasileiro suspenda a venda de armas para o Peru. Essas munições têm sido usadas na repressão contra o povo, que luta contra o governo ilegítimo e clama por novas eleições. Já foram mais de 70 mortos pelo Estado peruano durante os protestos. É urgente que o Brasil, tal como fez Espanha, cesse essas vendas, que violam uma série de tratados internacionais”, denuncia a deputada Fernanda Melchionna (RS), que, em janeiro, já havia enviado dois pedidos de informação.

Nos ofícios, a deputada questionou quais os protocolos exigidos pelo governo brasileiro para a exportação de produtos de defesa para o Peru. A autorização para exportar esse tipo de produto é exigida, por exemplo, pelo Ministério de Relações Exteriores, através da Divisão de Produtos de Defesa (DIPROD). O PSOL se solidariza com o povo peruano e se soma aos pedidos internacionais de fim da repressão e liberdade aos presos políticos.

Foto: Bruna Menezes