Artigo: “República da blindagem!”

O deputado federal Chico Alencar (RJ) reflete o absurdo dos últimos fatos relativos ao Congresso Nacional e da política brasileira e relembra os versos de Tim Maia: 'Eu bem que te avisei pra não levar a sério'

4 dez 2025, 20:12 Tempo de leitura: 1 minuto, 44 segundos
Artigo: “República da blindagem!”

Tim Maia, com sua língua ferina, se estivesse vivo diria que o Brasil é o país do nonsense. Vejam só. Por aqui, golpista não reconhece a intentona e quer “anistia”; megaempresário que pratica grossa falcatrua ganha alforria; deputado estadual fluminense, “parça” de bandido, considera prisão “desproporcional” e parlamentares federais, foragidos nos EUA, seguem exercendo seus mandatos como se nada tivesse acontecido.

A lista de casos escabrosos seguiria longa. Eles acontecem a todo momento nas instâncias de poderes da República.

Essa semana, por exemplo, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o relator do caso Zambelli, Diego Garcia (Republicanos/PR), propôs que a deputada – condenada por unanimidade no STF, e presa na Itália! – tenha seu mandato preservado! Diz que não há “certezas” (“só suspeitas”) de que Sua Excelência, em parceria com o hacker Delgatti, tenha invadido o sistema do Conselho Nacional de Justiça.

No Supremo, o ministro Dias Toffoli decretou “sigilo máximo” nas investigações do caso Master, que lesou mais de 1 milhão de pessoas. O empresário Vorcaro, já em liberdade, tem contatos (e, em vários casos, operações financeiras suspeitas, que chegam a R$ 16 bi) de A a Z em Brasília. Inclusive com figuras do Judiciário.

Seu colega no STF, ministro Gilmar Mendes, resolveu, em medida liminar, que só o procurador geral da República pode propor ação de responsabilidade contra ministro da Suprema Corte, contrariando um princípio da Constituição de que “todo poder emana do povo”. Ninguém que esteja exercendo mandato em qualquer dos poderes – Executivo, Legislativo ou Judiciário – é intocável.

Só há República, digna do nome, quando seus poderes praticam a transparência e não são usados para a autoproteção.

A mudança passa pela mobilização da cidadania, voto consciente, e fiscalização permanente da sociedade civil.

Do jeito que está, seja onde estiver, Tim Maia deve estar cantarolando: ‘Eu bem que te avisei pra não levar a sério’”.