“Respostas à crise climática passam pelos territórios e pelos povos que há séculos protegem a floresta”, afirma Talíria Petrone

No artigo "A esperança que vem de Belém", deputada diz que a COP30 coloca Brasil diante do desafio da transição verde global

6 nov 2025, 11:31 Tempo de leitura: 3 minutos, 14 segundos
“Respostas à crise climática passam pelos territórios e pelos povos que há séculos protegem a floresta”, afirma Talíria Petrone

Às vésperas da COP30, o Brasil se vê diante de uma escolha decisiva: tornar-se líder da transição verde global ou repetir os avanços e retrocessos que marcaram sua política ambiental nas últimas décadas. O encontro em Belém, de 10 a 21 de novembro, é a oportunidade de reafirmar o compromisso com a esperança e a justiça climática.

Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil recuperou o protagonismo que havia perdido nos espaços multilaterais. O país volta a ser reconhecido como articulador de consensos, com voz ativa na defesa do clima. Depois de anos de retrocesso ambiental e isolamento diplomático, o país chega à COP30 com credibilidade restaurada, políticas ambientais retomadas e uma agenda de futuro.

O governo federal reduziu o desmatamento na Amazônia, reativou o Fundo Amazônia e lançou novas estratégias de transição energética. Esses avanços também refletem a liderança da ministra Marina Silva, cuja trajetória é símbolo de coerência e compromisso histórico com a proteção da floresta. Sua presença no comando do Ministério do Meio Ambiente devolveu consistência técnica e credibilidade internacional à política ambiental brasileira.

Ser sede da COP30 é uma responsabilidade e uma oportunidade histórica. O Brasil tem demonstrado empenho para que a reunião gere avanços efetivos. A escolha de Belém como sede é profundamente simbólica. Realizar a conferência no coração da Amazônia é reconhecer que as respostas à crise climática passam pelos territórios e pelos povos que há séculos protegem a floresta. A COP30 será também um espaço de diálogo e de afirmação de um novo modelo de desenvolvimento baseado em justiça socioambiental.

Os efeitos positivos esperados se estendem muito além das negociações diplomáticas. Uma COP sediada na Amazônia precisa também se traduzir em oportunidades concretas para quem vive no território – fortalecendo economias locais, impulsionando cadeias sustentáveis e garantindo que a criação de trabalho e renda alcance as populações amazônicas. Um evento dessa magnitude deve deixar um legado vivo na região: não só acordos globais, mas transformação real na vida das pessoas que há séculos protegem a floresta.

O governo Lula tem buscado construir uma nova economia sustentável e inclusiva. Essa transição justa exige fortalecer o papel do Estado, regular o uso da terra, enfrentar os interesses da indústria de combustíveis fósseis e garantir que as políticas climáticas incluam quem historicamente foi deixado de fora: as populações periféricas, indígenas e quilombolas. E é neste ponto que precisamos enfrentar com honestidade a contradição representada pela pressão pela exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Avançar sobre uma nova fronteira fóssil em plena Amazônia aponta na direção oposta ao compromisso climático que o Brasil quer simbolizar na COP30. É um caminho que ameaça ecossistemas sensíveis, atinge povos que dependem do mar e projeta incertezas sobre a própria credibilidade do país no processo de transição.

A COP30 será um divisor de águas. É a chance de o Brasil confirmar seu papel de liderança: não apenas por sua biodiversidade, mas pela capacidade de unir desenvolvimento e sustentabilidade. Como mulher negra e parlamentar, acredito que o Brasil só será líder global se for também exemplo de transição ecológica com equidade – um país capaz de proteger suas florestas e seu povo. A esperança que vem de Belém precisa ser o ponto de partida de um novo pacto entre clima, economia e direitos.

O artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, em 29/10/2025.

https://diplomatique.org.br/a-esperanca-verde-que-vem-de-belem

Foto: Bruno Spada / CD