Deputadas do PSOL solicitam a museus europeus que devolvam mantos indígenas ao acervo cultural do Brasil
Célia Xakriabá (MG) e Erika Hilton (SP) afirmam que devolução dos artefatos é reparação histórica com o povo indigena brasileiro
13 set 2024, 10:01 Tempo de leitura: 2 minutos, 52 segundosA deputada federal Erika Hilton (SP), defensora dos direitos humanos, e a deputada federal Célia Xakriabá (MG), representante indígena no Congresso Nacional, uniram forças para solicitar a devolução, por parte de instituições museológicas da Europa, de dez mantos tupinambás, importantes peças sagradas do povo indígena, ao acervo cultural do Brasil.
As instituições europeias acionadas para a devolução dos mantos Tupinambás incluem o Nationalmuseet, em Copenhague, Dinamarca, que possui cinco mantos, sendo um já em processo de devolução; o Museu Quai Branly, em Paris, França, com um manto; o Basel Museum of Cultures, em Basileia, Suíça, com outro manto; o Musées Royaux d’Art et d’Histoire, em Bruxelas, Bélgica; a Pinacoteca Ambrosiana, em Milão, Itália; e o Museo di Antropologia e Etnologia di Firenze, em Florença, Itália, cada um com um manto.
“É importante dizer que trazer de volta todos esses utensílios para o Brasil é reparação histórica aos povos indígenas. Desde a invasão do Brasil, diversas peças foram levadas e os povos indígenas têm relação da memória e do próprio território”, explica a deputada Célia Xakriabá.
A ação acontece após o Museu Nacional da Dinamarca anunciar a doação de um dos mantos ao Brasil, que será devolvido oficialmente durante cerimônia nesta quinta-feira (12.09), às 17h, na área externa do Palácio de São Cristóvão, prédio sede do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (RJ).
Os dez mantos, confeccionados por indígenas do povo tupinambás, foram retirados do país durante o período colonial e atualmente se encontram em instituições museológicas europeias.
Os artefatos têm um significado profundo para os povos indígenas, representando não apenas um valor histórico e artístico, mas também simbolizando a resistência e identidade cultural dessas comunidades.
“Este manto, que está sendo devolvido hoje, e os outros, que ainda continuam nos museus europeus, são carregados de espiritualidade e ancestralidade, pertencem ao povo Tupinambá, que foi dizimado durante a invasão do Brasil. Na época, havia cerca de um milhão de Tupinambás. Trazer de volta este manto sagrado, usado por líderes religiosos, é restaurar sua importância espiritual”, explica Célia.
Com apenas onze mantos remanescentes do período colonial conhecidos, é essencial preservar e devolver essas peças ao Brasil, onde podem ser devidamente valorizadas e compreendidas em seu contexto original.
A iniciativa da deputadas do PSOL busca promover a justiça histórica e o reconhecimento dos direitos culturais dos povos indígenas. Elas estão solicitando às instituições museológicas europeias que iniciem as tratativas com o Ministério das Relações Exteriores, com o Ministério dos Povos Indígenas e com o Ministério da Cultura do Brasil para a devolução dos mantos ao acervo cultural brasileiro.
“Essa ação vai ao encontro do atual debate internacional sobre a restituição de artefatos culturais e históricos retirados de colônias por países exploradores. A recente devolução do fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus pela Alemanha ao Brasil é um exemplo significativo dessa mudança de perspectiva, em que as nações de origem têm seus direitos culturais e históricos reconhecidos e valorizados”, finaliza a deputada Erika Hilton.