“O desmatamento começa dentro de nós”, afirma deputada Célia Xakriabá em entrevista à TV Brasil

A parlamentar do PSOL criticou a lentidão do sistema político em reconhecer e proteger as comunidades indígenas, mencionando que o reconhecimento de direitos e a eleição de representantes indígenas são avanços recentes e ainda insuficientes

19 abr 2024, 12:20 Tempo de leitura: 2 minutos, 15 segundos
“O desmatamento começa dentro de nós”, afirma deputada Célia Xakriabá em entrevista à TV Brasil

“As pessoas estão desmatadas por dentro”. A declaração foi feita pela deputada Célia Xakriabá (MG) ao jornalista Leandro Demori, em entrevista especial ao programa Dando a Real com Demori, exibido pela TV Brasil, na última terça-feira (16.04). Durante o encontro, a parlamentar, primeira indígena eleita deputada federal por Minas Gerais e também a primeira mestre de seu povo, compartilhou suas experiências e desafios na defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente dentro do Congresso Nacional. 

“Engraçado que no Congresso muita gente que me vê falando, fala, ‘engraçado, parece que você não está sozinha’. Não, eu não estou sozinha! Eu sou uma, mas não sou só. Porque, realmente, a nossa força é medida não pela quantidade de pessoas, mas pela força que a gente carrega”, contou a parlamentar, que costuma cantar antes de seus discursos para trazer para si a força da ancestralidade. “Vocês não rezam pra comer? Eu canto para falar, pra não falar sozinha”.

A deputada Célia destacou a importância da preservação cultural e ambiental, mencionando que, desde a infância, se vê como protetora da natureza, missão que considera seu propósito de vida.  “Possivelmente as pessoas que não conseguem conceber diversidade de sociedade, elas estão desmatadas por dentro. Então nós temos o desafio também de reflorestar as pessoas, mentes e corações. É importante todo esse processo de reconhecer a relação com o território. Eu falo que somente sabe ser humano aqueles que sabem ser água; somente sabe ser humano aqueles que sabem ser bicho; somente sabe ser humano aqueles que têm a capacidade de ‘oncificar’”, declarou a deputada

Ao longo da entrevista, ela criticou a lentidão do sistema político em reconhecer e proteger as comunidades indígenas, mencionando que o reconhecimento de direitos e a eleição de representantes indígenas são avanços recentes e ainda insuficientes diante dos desafios enfrentados. “Foi um resultado importante o julgamento e a aprovação da consulta do nosso mandato, enviado para o TSE, que garante tempo de televisão e rádio e fundo partidário para as candidaturas indígenas. As pessoas falam, ‘ah, os povos indígenas são atrasados’, mas demorou mais de cem anos para eleger o primeiro indígena no Brasil, Juruna Xavante. Demorou 195 anos para eleger a primeira mulher indígena, Joênia Wapichana. E demorou 200 anos para ter a primeira mulher indígena presidindo uma comissão no Congresso Nacional”, destacou.

Assista aqui a íntegra do programa:
http://www.youtube.com/watch?v=O6c0yeRNbEY