Sâmia Bomfim lota o maior auditório da Câmara com servidores de universidades e IFs em greve
Categoria faz jornada de lutas em Brasília a fim de reivindicar por recomposição salarial, reestruturação de carreira e condições dignas para garantir ensino público de qualidade
19 abr 2024, 10:17 Tempo de leitura: 4 minutos, 48 segundosO auditório Nereu Ramos, o maior da Câmara dos Deputados, ficou pequeno para receber as centenas de servidoras e servidores públicos de todo o Brasil que estão em greve. São professores e servidores técnico-administrativos vinculados a mais de 60 universidades e institutos federais que reivindicam, entre muitas pautas, a recomposição salarial e orçamentária, a reestruturação de carreira e condições que garantam qualidade à educação pública. A atividade, ocorrida nesta terça (16.04), foi requerida e coordenada pelo mandato de Sâmia Bomfim (SP), por meio da Comissão de Administração e Serviço Público (CASP).
As paralisações tiveram início em 11 de março, convocadas pela Fasubra Sindical, entidade que defende a categoria de técnicos administrativos (TAEs). Em 3 de abril foi a vez dos trabalhadores da educação básica, profissional e tecnológica, representados pelo Sinasefe, declararem a adesão. Na véspera da audiência (15), os atos unificados ganharam ainda mais força quando o Andes-SN ingressou na mobilização para ecoar as vozes dos docentes. O prazo de duração da greve é indeterminado.
Na abertura, Sâmia apontou que a necessidade urgente da reposição de perdas salariais é o motivo central da mobilização, somada à precarização das condições de trabalho, o subfinanciamento das instituições e a falta de resposta do governo às demandas. “A categoria foi uma das principais ‘pontas de lança’ na resistência ao bolsonarismo quando ele atacava com autoritarismo, negacionismo e intervenção nas federais”, lembrou a requerente, que é membra titular do PSOL na CASP. E completou: “Entre tantos motivos, nós elegemos o presidente Lula para ter direito de luta, porque a gente sabe que isso também estava em risco. Agora, que a gente tem esse direito consolidado devemos fazer uso dele”.
Coordenador da Fasubra, Sandro Pimentel citou dados do Dieese que indicam perdas de 40% nos valores dos salários dos servidores no período de 2013 a 2023. “Nossa paciência se esgotou, não é uma perda qualquer. Viemos de seis anos em que houve uma completa escuridão do ponto de vista das políticas públicas da educação. Agora, queremos que o governo Lula comece a implementá-las, o que ainda não aconteceu”, disse o dirigente, que também é ex-vereador do PSOL em Natal (RN).
O presidente da Andes-SN, Gustavo Seferian, endossou: “Queremos mais salário, mas também qualidade de trabalho. Queremos condições de desenvolver ensino e pesquisa de uma forma digna. Queremos mais concursos para professores, mas que não sejam apenas voltados para reocupação de vagas”. Em nome do Sinasefe, David Lobão contou que a rede federal já teve orçamento compatível mas, atualmente, enfrenta dificuldades até para a compra de itens básicos, como materiais de limpeza e para a alimentação dos estudantes.
O secretário de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), José Celso Cardoso Júnior, acredita que a proposta a ser apresentada pelo governo poderá colocar fim à greve. Ele observou, por outro lado, que o assunto é complexo e não se esgotará a curto prazo, principalmente porque a base do governo no Congresso tem tido dificuldades para alavancar grandes mudanças.
“A reconstrução tem que ir pelos caminhos de menor resistência legislativa. E é incremental, porque você não consegue recompor perdas, capacidade administrativa, do dia para a noite. Esse é um processo que vai percorrer todo o terceiro mandato do presidente Lula”, declarou o gestor, alegando que o MGI propôs aumentar os benefícios pagos aos servidores, mas sem garantir qualquer reajuste salarial neste ano. A fala não agradou e gerou protestos entre os grevistas.
Mais para a Educação, menos para o Centrão
De tão lotada que ficou a audiência pública, o mandato da deputada Sâmia precisou solicitar a autorização da Mesa Diretora para a instalação de um telão – fornecido pelo Andes-SN – na lateral do Anexo II da Câmara, onde está localizado o auditório. Dessa forma, diversas pessoas puderam acompanhar, atentas, do lado externo da Casa.
A atividade deu início à chamada “jornada de lutas” que os servidores promoveram por três dias seguidos em Brasília. Na quarta (17), pela manhã, dezenas de ônibus chegaram à capital trazendo delegações de diferentes estados, culminando com uma marcha que reuniu dez mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
Sâmia Bomfim foi pessoalmente manifestar seu apoio à mobilização: “Enquanto há aqueles que tentam disputar esse orçamento para se beneficiar individualmente, a gente está aqui para dizer que o dinheiro tem que ser para o atendimento das reivindicações”. A deputada, que é servidora técnico-administrativa em educação (TAE) da Universidade de São Paulo (USP), parabenizou as entidades pela greve, já considerada a maior da educação pública na história do país.
“O reajuste tem que vir neste ano, não no ano que vem, e tem que ser de acordo com as perdas salariais dos últimos anos. Não tem que ter diferença entre os ativos e os inativos, garantindo o benefício para alguns que não conseguem quando estão aposentados. E sem essa de ser só com auxílio, queremos é o salário na conta, porque é isso que vale para a previdência. E, claro, queremos a reestruturação da carreira dos TAEs, que são os mais desvalorizados”, discursou.
Assista à íntegra da audiência pública “As mobilizações dos servidores técnico-administrativos de universidades federais e de institutos federais por reajuste salarial”: